ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA
DEBATER O PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO AMBIENTAL DE PORTO ALEGRE –
TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUARTA LEGISLATURA, EM
30-8-2007.
Aos trinta dias do mês de agosto do ano dois mil e
sete, reuniu-se, no teatro Centro Vida, na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia,
nº 2132, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às vinte horas e cinco minutos, o
Vereador João Carlos Nedel assumiu a presidência e declarou abertos os
trabalhos, informando que a presente Audiência Pública seria destinada a
discutir a importância do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental
para a Cidade de Porto Alegre, nos termos do Edital publicado no Jornal do
Comércio, no dia vinte de julho do corrente. Compuseram a Mesa: a Vereadora
Maria Celeste; Presidenta da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Vereador
Jurandir Liberal, da Câmara Municipal de Recife – PE –; o Senhor Vilson Valério
Lopes, representando a União das Associações dos Moradores de Porto Alegre; o
Arquiteto Cláudio Ferraro, Assessor Técnico da Câmara Municipal de Porto
Alegre; o Senhor Sérgio Cupini, Conselheiro da Região de Gestão de Planejamento
Urbano nº 03 do Conselho Municipal de
Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre; os Vereadores Sebastião
Melo, Guilherme Barbosa e Dr Raul. Também, o Senhor Presidente registrou a presença,
nesta Audiência Pública, dos Senhores Edmílson Espíndola, representando o
Centro Administrativo Regional – CAR – Zona Norte/Eixo Baltazar; José Valdir,
Coordenador do Fórum de Segurança da Zona Norte; Afrânio Kieling, da Associação
dos Transportadores do Porto Seco; da Senhora Maria Horácia de Ribeiro,
Presidenta da União das Associações de Moradores de Porto Alegre – UAMPA –; e
dos Vereadores Adeli Sell, Alceu Brasinha e Carlos Comassetto. Ainda, o Senhor
Presidente informou que, após explanações da Vereadora Maria Celeste sobre o
PDDUA, seria concedida a palavra para as manifestações de interessados, sendo
de cinco minutos a duração máxima de cada uma dessas intervenções. Na oportunidade,
o Senhor Presidente informou que as Audiências Públicas relativas ao Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre estão sendo
gravadas e que o material dessas gravações será repassado à Comissão de
Vereadores a ser formada para análise do assunto neste Legislativo. Em
continuidade, foram iniciados os debates acerca do Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano Ambiental de Porto Alegre, tendo o Senhor Presidente concedido a palavra
à Vereadora Maria Celeste; ao Vereador Jurandir Liberal, da Câmara Municipal de
Recife – PE –; ao Senhor Vilson Valério Lopes; ao Arquiteto Cláudio Ferraro; à
Senhora Carmem Martim Lopes, da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim
Dona Leopoldina; ao Senhor Jackson Roberto Santa Helena de Castro, da Associação
do Porto Seco; ao Senhor Virgílio Manoel Aurélio, da Associação Comunitária
Nova Gleba; ao Vereador Guilherme Barbosa; ao Senhor José Valdir; ao Senhor
João Miguel da Silva Lima, da COMETAL; à Senhora Maria Iná Santos, da
Associação dos Moradores da Vila Amazônia; ao Vereador Dr. Raul; à Senhora Maria
Horácia Ribeiro; ao Senhor Sérgio Cupini; ao Senhor Edmilson Espíndola; à
Senhora Jurema Salete Costa Inácio, da comunidade do Parque das Laranjeiras; ao
Senhor José Gonzáles; e ao Senhor Rolf Naumann, da Associação dos Moradores e
Amigos do Bairro Higienópolis. Ainda, durante a presente Audiência Pública,
foram registradas as presenças do Senhor José Gonzáles, representando o
Conselho Municipal de Acesso à Terra e à Habitação – COMATHAB. Às vinte e duas horas, nada mais havendo a tratar,
o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos da presente Audiência
Pública. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Carlos Nedel e
secretariados pelo Vereador Alceu Brasinha. Do que eu, Alceu Brasinha, 1º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata, que será assinada por mim
e pela Senhora Presidenta.
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): Eu sou o Ver. João Carlos Nedel, 2º Secretário da Mesa Diretora, e
coube a mim, hoje, coordenar os trabalhos desta Audiência Pública. Então, eu
gostaria de compor a Mesa: Ver.ª Maria Celeste; Ver. Jurandir Liberal, com
muita honra, representando a Câmara Municipal de Recife (Palmas.); Sr. Vilson
Valério Lopes, representante da União das Associações dos Moradores de Porto
Alegre; o Arquiteto Urbanista e especialista em Plano Diretor, Cláudio Ferraro,
Assessor Técnico da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Sérgio Cupini,
Conselheiro e representante da Região do Planejamento do Plano Diretor; Ver.
Sebastião Melo; Ver. Guilherme Barbosa; Ver. Dr. Raul. Iniciando o assunto, eu
passo a palavra à nossa Presidenta da Câmara Municipal, Ver.ª Maria Celeste.
A SRA. MARIA CELESTE: Boa-noite a todos e a todas,
com muita alegria, com muita satisfação, estamos, aqui, na 7ª Audiência Pública
da discussão do Plano Diretor na cidade de Porto Alegre; hoje, particularmente,
na Região onde moramos, e isso, para nós, é muito significativo, muito caro,
muito importante. Quero saudar os Vereadores que estão aqui conosco; a representante
da UAMPA, que tem sido parceira nesses encontros, nessas Audiências; o Dr.
Ferraro, que é Técnico do Grupo de Trabalho que nós criamos na Câmara Municipal
- um grupo de trabalho de assessores voluntários; uma assessoria guerreira,
que, voluntariamente, aderiu ao Projeto da Câmara Municipal, no sentido de
desenvolver alguns trabalhos, como a construção de um folder e a construção de
uma cartilha que levem a discussão para a cidade de Porto Alegre. Quero saudar,
especificamente, a vinda do nosso companheiro, o Vereador da Câmara Municipal
da cidade de Recife, relator da Comissão Especial que está tratando sobre o
Plano Diretor na cidade de Recife, que achou importante ser vista de perto a
nossa iniciativa - e, por isso, ele está, aqui, conosco, essa noite; ele já
esteve no Rio de Janeiro, passará, também, pela cidade de São Paulo, e estará
em Belo Horizonte para acompanhar as discussões que aquelas Câmaras Municipais
estão fazendo. Para nós, Ver. Nedel, que somos da Mesa Diretora, é muito
gratificante verificarmos que um processo que nós iniciamos, mesmo antes do
Projeto elaborado pelo Executivo sobre o Plano Diretor chegar à Câmara
Municipal, está sendo reconhecido como uma proposta interessante, uma proposta
diferente, uma proposta que nenhuma cidade do Brasil, nenhuma Câmara do Brasil
ainda realizou. Por isso estamos recebendo a visita do Ver. Jurandir, nesta
noite. Ele já esteve conversando com vários Vereadores na tarde de hoje, para
verificar quais são as opiniões das diversas Bancadas sobre o Plano Diretor na
Cidade, mas ele fez questão de estar aqui numa Audiência Pública e ouvir o que
a comunidade, o que as representações, o que as entidades têm para nos dizer. E
foi com essa intenção, Jurandir, que a Mesa Diretora tomou essa decisão. Nós
percebíamos que, no primeiro semestre, o processo foi extremamente truncado
pelo Governo, pelo Executivo local, no sentido da proposição das Audiências
Públicas. Nós acompanhamos isso. A Câmara tem uma responsabilidade com a cidade
de Porto Alegre. Nós acompanhamos o desastre que foram aquelas Audiências
Públicas, inclusive com a proposição de embargos no Ministério Público, e isso
muito nos preocupou. Por isso nós iniciamos essa rodada de escutas pela Cidade.
Essas Audiências são, de fato, o momento em que a Câmara Municipal pára e
escuta. Nós não estamos, aqui, para falar - por isso os Vereadores diziam que
não precisavam fazer parte da Mesa. Obviamente, haverá o tempo para as
intervenções das Bancadas, mas nós não estamos aqui para falar, mas para
ouvi-los; nós queremos ouvir o que a comunidade tem a nos dizer,
especificamente sobre a Região Norte/Eixo Baltazar. Nós sabemos das várias
questões que já foram apontadas em outras Regiões, e deveriam estar apontadas
no Projeto que ainda a gente não tem o conhecimento - provavelmente na
segunda-feira o Prefeito Municipal encaminhará para a Câmara Municipal o
Projeto, aquilo que eles elaboraram e o que têm para o Plano Diretor -, mas nós
sabemos que há questões extremamente importantes, como a questão da
Regularização Fundiária na cidade de Porto Alegre, que parece não estar sendo
tratada no Plano Diretor. Nós precisamos discutir, de uma forma bastante
contundente, a questão dos acessos das vias, da mobilidade urbana na cidade de
Porto Alegre. Então, é com essa intenção, de levantar temas, e aí o Dr. Ferraro
poderá expor um pouco sobre a questão mais técnica, que nós estamos aqui, a
Câmara, a Instituição, não é uma iniciativa de nenhum Vereador, mas da
instituição Câmara Municipal, com o sentido de ouvir todas as propostas e todas
as questões que os senhores e as senhoras irão levantar esta noite.
Quero dizer, também, que aquelas questões que não são pertinentes ao
Plano Diretor e aparecem, como têm aparecido em outras Audiências, porque são
da vida, do cotidiano de cada um, também serão levadas em consideração por esta
Mesa Diretora e encaminhadas a quem de direito: ou ao Executivo Municipal ou ao
Executivo Estadual. Enfim, nós faremos os encaminhamentos pertinentes a essa
questão também.
Quero saudar o Ver. Carlos Comassetto e o Ver. Adeli Sell, que convido
para juntarem-se a nós neste momento solene de abertura; saudar também a Maria
Horácia, Presidente da UAMPA, seja bem-vinda a nossa Audiência, tem sido muito
parceira; saudar o Edmilson, do CAR,
representando o Executivo, o que é muito importante. Quero dizer,
Edmilson, que é a segunda Audiência na qual o Executivo se faz presente, eu sei
que somos parceiros de grande luta aqui na região, o CAR está sempre presente.
Não quero me alongar muito, desejo a todos e a todas uma boa reunião, e
que, de fato, possamos construir uma opinião desta Região, especificamente
Norte/Eixo Baltazar, sobre a questão do Plano Diretor na cidade de Porto
Alegre, e que será também traduzida, através de um relatório, que
encaminharemos para a Comissão Especial que vai avaliar. Na semana que vem,
provavelmente, a Câmara Municipal estará constituindo a Comissão Especial,
composta provavelmente por 12 Vereadores, que irá tratar, especificamente, do
Projeto que vem do Executivo e das considerações que nós estamos elaborando
através dos relatórios dessas Audiências. Uma boa reunião para todos nós e um
bom trabalho. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Eu gostaria de agradecer a
presença entre nós da Maria Horácia de Ribeiro, Presidenta da UAMPA; do Sr.
Edmilson Espíndola, representando o CAR Norte/Eixo Baltazar; do Professor José
Valdir, ex-Vereador e coordenador do Fórum de Segurança da Zona Norte; do Sr.
Afrânio Kieling, da Associação dos Transportadores do Porto Seco; do Jackson;
e dos nossos Vereadores que chegaram há pouco, Adeli Sell e Carlos
Comassetto. As inscrições estão liberadas. Queremos ouvir o nosso Vereador de
Recife, Jurandir Liberal.
O SR. JURANDIR LIBERAL: Boa-noite a todos e a
todas, primeiro eu queria agradecer a receptividade com que fui recebido aqui
em Porto Alegre, não poderia ter sido diferente, e dizer da satisfação de ter
vindo à Câmara de Vereadores de Porto Alegre para assistir a esta discussão do
Plano Diretor.
Eu queria só dar alguns informes para vocês: lá em Pernambuco, a Prefeitura do PT, na administração João
Paulo, adotou a prática da realização das conferências na área de saúde,
educação, meio ambiente e transportes. Também fizemos a Conferência das
Cidades, para cumprir a recomendação do Estatuto da Cidade e, sobretudo, fazer
a reforma do Plano Diretor da Cidade. Então, foram feitas as plenárias, foi
feita a Conferência, e o Projeto foi encaminhado à Câmara com essa proposta da
Conferência. Mas houve um problema na Conferência: os empresários se retiraram da Conferência. Então, ficou mais um
movimento, o Fórum, e que teve como resultado o documento ter ficado com a
posição só com um lado. Esse documento foi encaminhado à Câmara, mas,
posteriormente, o próprio Executivo encaminhou um Substitutivo. Foi instalada a
Comissão Especial, formada por sete Vereadores proporcionais às Bancadas, e
estou como Relator. De início, nós fizemos algumas audiências temáticas, nas
quais queríamos saber, também, como é que estavam se comportando outros
Municípios. E Porto Alegre nós tomamos como referência, porque vocês são
pioneiros na questão do Orçamento Participativo – vocês têm muita história
nesse aspecto. Fiquei muito
gratificado, desde a conversa que tive com Nina, assessora de Celeste, até as
conversas com os demais Vereadores, enfim. Vou levar a mensagem do que eu
aprendi, hoje, aqui, para os demais companheiros da Comissão, para ver se a
gente desenvolve alguma etapa diferente do que estava programado. A nossa idéia
era abrir o processo do dia 10 de setembro até 1º de outubro para emenda dos
Vereadores, e, em seguida, fazer discussões com alguns setores. Estamos
abrindo, também, para as entidades apresentarem sugestões - não como emendas,
porque não têm este poder -, mas sugestões que a própria Comissão possa transformar
em emendas.
Queria parabenizar vocês pela forma como está sendo feita. Acho que é
um dos melhores exemplos, e era bom que se pudesse divulgar ao máximo, para que
outras cidades pudessem adotar. Parabéns a Presidenta, Maria Celeste, pela
condução deste trabalho, e aos demais companheiros Vereadores.
Eu queria, inclusive, ouvir o nobre Dr. Ferraro. Gostaria de observar,
se eu pudesse depois entrar em contato com ele; se ele pode nos ajudar também -
pegar carona, aproveitando esses voluntários para a gente contribuir. Entendo
que a cidade é para todos, não só para um grupo, então é preciso que a gente
pense no futuro. Uma coisa interessante para quem não é Vereador, é que a gente
tem adotado o seguinte: nessas discussões dos problemas da cidade, não tem esta
questão de Partido. Acho que todo o mundo tem que estar no mesmo caminho. Acho
que, com certeza, vocês vão fazer o melhor possível; com certeza o produto que
vai sair da Câmara vai ser o melhor possível. Quando a Mesa Diretora, a própria
Casa está unida neste propósito, com certeza Porto Alegre vai ter um excelente
Plano. Vocês estão de parabéns. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Comunico a presença do Ver.
Brasinha. Está presente também o Sr. José Gonzáles, representante do Comathab -
Conselho Municipal de Acesso a Terra e à Habitação. Peço a que todos que
falarem, que o façam no microfone. O tempo será de cinco minutos, e está sendo
gravado para que a gente possa realmente colher essas informações que vocês
irão nos prestar. Com a palavra o representante da União das Associações dos
Moradores de Porto Alegre – UAMPA, Vilson Valério Lopes.
O SR. VILSON VALÉRIO LOPES: Boa-noite a todos e a
todas; boa-noite aos 36 Vereadores da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, e,
especial, aos Vereadores que estão aqui presentes, prestigiando esta atividade;
aos Conselheiros do Conselho do Plano Diretor desta região; aos Conselheiros do
OP; aos militantes do Movimento Comunitário; enfim, ao conjunto dos membros da
sociedade civil desta região; ao Ver. Brasinha que me persegue com aquele azul
dele, lá. Dizer para vocês que nós, da UAMPA, estamos fazendo este movimento
junto com a Câmara de Vereadores, mas muito mais: nós achamos que a importância
histórica que a Câmara de Vereadores – Ver.ª Maria Celeste como Presidenta, e o
2º Secretário da mesa – estão fazendo, neste momento, é como disse o Vereador
do Recife aqui, de que nós estamos marcando um tempo histórico do ponto de
vista da construção da Cidade que queremos. Então, para nós, isso tem uma
importância fundamental, porque nós lutamos cotidianamente para melhorar as
condições da nossa Cidade, as condições de habitabilidade, de circulação e
assim por diante. Nós, da UAMPA, temos o orgulho de estar fazendo este debate.
Fizemos nove rodadas, anteriormente, com as comunidades; estamos agora fazendo
a sétima já, essas em parceria com os Vereadores, e, do ponto de vista da luta
para construir a Cidade que queremos, tem sido fundamental a coleta dessas
informações, que, como a Maria Celeste disse que a gente ouve os depoimentos,
mas acho que são os testemunhos das pessoas, de como elas vêem a sua Cidade, de
como elas querem a sua Cidade. Então, para nós, da UAMPA, tem sido muito
gratificante, apesar de que nós enfrentamos alguns problemas, isso tem que
ficar claro aqui. Nós temos alguns problemas de compreensão; a pauta do Plano
Diretor não é muito compreensível pelas pessoas; elas não se dão conta de que
ela influencia diretamente nas nossas vidas. Mesmo assim, nós estamos fazendo o
debate, um debate qualificado em todas as regiões de Porto Alegre. Nós, da
UAMPA, por exemplo, não queremos discutir - desde o início, quando começaram
aquelas discussões, pela mídia, sobre as alturas - as alturas; quem faz sombra
para quem; nós queríamos discutir a regularização fundiária, nós queríamos
discutir o tamanho dos lotes, nós queríamos discutir os Portais da Cidade, nós
queríamos discutir um conjunto de temas que afligem a nossa vida. A Câmara de
Vereadores está propiciando isso e vai propiciar mais ainda, agora, quando se debruçar
sobre o Plano Diretor para estudá-lo. É justamente isto: que a gente possa
fazer esta separação. Tem grandes interesses em jogo, todo o mundo sabe; é
legítimo, nós vivemos numa sociedade democrática, todo mundo tem que
reivindicar, todo mundo tem que tencionar; agora, nós precisamos resolver
alguns problemas, que são: a
regularização fundiária em Porto Alegre, a questão do IPTU progressivo e um
conjunto de outros temas que são importantes para a nossa vida. Eu queria
agradecer ao Presidente desta Reunião, o Ver. Nedel, pela oportunidade de a
gente poder dar este recado aqui e queria dizer da importância que nós damos
para este espaço de ouvir os testemunhos das comunidades com relação a esse
tema. Muito obrigado, e bom trabalho
para todos! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Agora vamos ouvir o Dr.
Ferraro sobre a parte técnica.
O SR. CLÁUDIO FERRARO: Antes de mais nada, gostaria
de saudar, como outros já fizeram, a Sra. Presidenta da Câmara Municipal; o
Vereador-Presidente desta Mesa; o Sr. Vereador do Recife, e os demais
Vereadores e Vereadoras de Porto Alegre: meus cumprimentos! A minha saudação
também a todos os senhores e senhoras que nos honram com a sua presença neste
momento. Como o nosso tempo é curto, eu vou entrar diretamente no assunto para
poder fazer algumas colocações que são, no meu entender, muito importantes para
o dia de hoje, isto é, eu não vou fazer uma conferência sobre a ciência
urbanística; eu vou falar sobre a razão de estarmos aqui neste noite. Já de há
muito se tem ouvido falar, nas nossas reuniões anteriores, sobre a Legislação
que dá amparo aos Planos Diretores: a
Constituição Federal; o Estatuto da Cidade, que é mais recente, e a Lei
Orgânica do Município. Existe também uma Lei estadual, que determina alguns
parâmetros para a elaboração de Planos Diretores, mas nós já temos assimilado
que os Planos Diretores são muito importantes para qualquer cidade,
particularmente para Porto Alegre, que sempre foi pioneira nessa ciência de
planejamento, de ordenamento da Cidade, do crescimento da Cidade. Rapidamente, em pouquíssimas palavras, eu
quero dizer que a tradição de Porto Alegre começou em 1914, quando o Intendente
da época contratou um plano para Porto Alegre, que, naquela ocasião, foi um
simples plano viário. Em seguida, vieram outros planos, até com influência de
São Paulo e Rio, mas foi em 1939 que surgiu um plano um pouquinho mais
completo, o Plano Gladosh, do arquiteto Gladosh, que estabelecia as principais
avenidas da Cidade e algumas áreas verdes, principalmente o Parque Farroupilha.
Posteriormente, nós tivemos, em 1959, alterada em 1961, a Lei n° 43, que foi um
plano diretor, na época, exatamente como eu disse, pioneiro, porque ele já
continha não só um plano setorial - viário ou de áreas verdes e de escolas -,
mas ele continha também disposições para as edificações particulares; quer
dizer, dos regimes urbanísticos e do zoneamento das atividades. Então, foi um
plano mais completo esse de 1961. Entretanto, a lei foi tão sábia, que
estabeleceu que se deveria abreviar o processo de planejamento, que aquele
plano de 1959, consolidado em 1961, só iria até a 3ª Perimetral. Dali em diante
não tínhamos Plano Diretor, mas essa própria Lei delegou ao Executivo a
possibilidade de aumentar, de estender essas regras para todo o Município, e
essas extensões foram feitas, extensão A, B, C e D, quatro extensões que
passaram a cobrir todo o território municipal com os mesmos princípios. Então,
foi o que ocorreu até a década de 70, quando, concluídas as extensões que
cobriam todo o território do Município, resolveu-se partir para um novo Plano
Diretor.
Esse novo Plano Diretor teve grandes inovações; a que eu mais destaco
foi a inclusão legal da participação da comunidade no processo de planejamento.
A partir daquele momento, tentou-se, modestamente, ouvir a comunidade no
processo de planejamento, e também houve como novidade a inclusão de um sistema
de gerenciamento do Plano Diretor. Também incluída nessa Lei, houve uma
consolidação de leis esparsas, como a Lei sobre parcelamento do solo,
loteamentos, condomínios, etc.
Mas isso tudo, como eu disse, é passado. Hoje estamos aqui mais para
ouvir, como disse a Sra. Presidenta, do que para falar. Mas o que estamos
fazendo aqui? A Câmara Municipal está para receber um Projeto de Lei
Complementar que revisa, altera o Plano Diretor atual. Então, como a Câmara
está para receber esse Projeto, a Presidenta resolveu fazer essas audiências,
que são também obrigação da Câmara, ouvir a comunidade para que ela manifeste
as suas necessidades, as suas carências, as suas demandas para que os
Vereadores, assessorados por nós, técnicos, possamos ver até que ponto a
população está contemplada naquilo que deseja.
Então, a razão de ser deste encontro é ouvir a comunidade de cada
região para saber, no momento em que formos analisar o Plano Diretor, se essas
demandas estão atendendo às aspirações da população. Eu digo atendendo às
aspirações da população, porque o Plano Diretor só tem sentido se for dirigido
para a população. Não houvesse a população, não fosse o povo, não teríamos as
cidades, não teríamos por que ordenar as cidades. Nós estamos querendo ordenar
a Cidade, oferecer melhor qualidade de vida para a população desta Cidade.
Então, é essa população que tem que apresentar as suas carências, as suas
demandas, as suas necessidades.
No momento estamos para revisar este que é o último Plano Diretor, a
Lei Complementar nº 434/99, que exatamente foi instituída em dezembro de 1999,
e que se valeu das experiências anteriores e incluiu algumas novidades. É
preciso que se fale dessa Lei para saber o que vamos analisar. Essa Lei nº
434/99 tem, por exemplo, no seu índice, quatro partes. A primeira parte trata
do desenvolvimento urbano. O que seria isso? Seriam os conceitos que foram
estabelecidos nessa época da década de 90 para a estrutura urbana, a mobilidade
urbana, a malha viária, a qualificação ambiental, a promoção econômica, a
produção da Cidade, o sistema de planejamento.
Então, foram estabelecidas aqui sete
estratégias, que são exatamente os conceitos que se pretendia que essa Lei do
Plano Diretor alcançasse para melhorar a qualidade de vida da Cidade. Essas
estratégias evidentemente estão calcadas em conceitos urbanísticos universais.
É evidente que, se formos analisar o texto de cada estratégia, vamos ver que
são as mesmas que se aplicam em qualquer Cidade do mundo e estão corretas,
porque estão consagradas pela ciência urbanística. Na segunda parte dessa Lei,
temos um sistema de planejamento, que já havia anteriormente, mas foi, digamos
aqui, detalhado, foram acrescidas algumas alterações.
E o que seria o sistema de planejamento? Todo Plano Diretor é dinâmico, ele tem
que acompanhar a dinâmica das cidades. Então, o Sistema de Planejamento é
exatamente uma organização administrativa
que se propõe, que se imagina, para atualizar, permanentemente, o Plano
Diretor.
Nós estamos,
então, com um Sistema onde tem especificado, normatizado, e tem por base um
Conselho Municipal do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, onde há
participantes de muitas regiões da Cidade.
Eu diria, então, que nesta Lei se trata de um Sistema Municipal de
Gestão do Planejamento, e aqui se especifica quais são os componentes do
Sistema. Quer dizer, todas as Secretarias Executivas são componentes do
Sistema, em nível Executivo, no Conselho Municipal do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano, que hoje há mais de 20 componentes, se não me engano.
Eu fui Presidente desse Conselho durante 13 anos, mas, naquela época, éramos 15
membros; agora parece que são 25. Há representantes das oito Regiões de
planejamento, há representantes da Sociedade de Engenharia e outras entidades
como o Sindicato da Construção, e outras entidades que participam dessas
reuniões semanais, e deliberam, decidem, aconselham, mais especificamente, o
Prefeito, porque todas as decisões vão à análise do Prefeito, sobre qualquer
processo relativo à mudança do Plano Diretor. São comuns, por exemplo, nessas
reuniões, tratar-se de grandes projetos, de grandes conjuntos residenciais,
grandes empreendimentos, como shopping center; ou também de loteamentos,
como é muito tradicional, muito comum, a alteração do Projeto do Sistema Viário
Secundário. Nós temos as grandes avenidas, mas, de repente, quando surgem
loteamentos novos e algum prolongamento necessário, fica em nível do Conselho
do Plano Diretor, por resolução, a aprovação desses novos traçados do Plano
Viário. Então, essa é a segunda parte dessa Lei que tratou, como disse, dos
conceitos, das estratégias, e, depois, da organização administrativa, onde
temos o território todo dividido em várias regiões que são identificadas como
Áreas Especiais de Interesse Social, de Interesse Cultural, de Interesse
Ambiental - fazem parte da divisão territorial do Município. É uma parte muito
mais conceitual, a primeira e a segunda parte, do que prática.
A terceira parte trata do Plano Regulador. O
que seria isso? São todas as normas que tratam das edificações particulares.
Então, nós vamos ver, mais adiante, que o Plano Diretor que se compõe de
plantas e do modelo espacial, ele, além dos logradouros públicos - avenidas,
vias, praças, escolas, creches, mercados -, além dessas normas que estão nesta
Lei e tratam das obras públicas, ele tem normas específicas para as edificações
particulares. Então, esse Plano Regulador trata de todas as edificações
particulares, que, de resto, já vem tratando desde a década de 50. É exatamente
essa questão das construções particulares que mais se tem discutido
recentemente, porque essas construções particulares são normatizadas mediante
um regime urbanístico. O que seria esse regime urbanístico? Seria a densidade
que se espera para uma unidade urbanística; seriam as atividades permitidas
nessa unidade urbanística; seria o índice de aproveitamento, isto é, qual é a
capacidade construtiva do lote, do terreno, e a volumetria do prédio. Então,
isso é normatizado nessa Lei, mediante alguns anexos. Nós temos o Plano
Regulador que trata das construções particulares, então, como estamos vendo,
temos aqui, previsto nesta Lei, e graficadas em plantas e modelos espacial, obras públicas e normas
para obras privadas, até para o parcelamento do solo e loteamento.
Finalmente, compõem esta Lei alguns Anexos, que estão relacionados com
o Regime Urbanístico. Há aqui os quatro códigos, em cada região do mapa diz
qual é o número que está referido. E aqui vai dizer qual a densidade
populacional admissível, qual é a atividade permitida, qual é o índice de
aproveitamento - a capacidade construtiva do terreno -, e qual é a altura,
volumetria, afastamento dos prédios previstos para cada unidade. Essas unidades
não temos aqui para mostrar, mas estão no mapa numa escala maior. Esse modelo
espacial que aqui está, o modelo espacial de todo o território, onde estão
graficadas algumas atividades especiais, algumas áreas de preservação permanente.
Estão especificadas as áreas com predominância residencial, outras áreas com
predominância comercial, ou industrial, em um conceito que essa Lei de 1990
atribuiu a todo o território do Município como área urbana.
Então, todo território, a partir de 1990, é área urbana. E alterou um
pouco o Plano anterior, quando eliminou os centros de bairro, e criou os
corredores de centralidade. A diferença é que o corredor de centralidade, por
exemplo, entre a Av. Bento Gonçalves e a Av. Ipiranga, inicia-se na área
central e vai até a divisa do Município. Então, a idéia é que toda a população
fosse atendida por esse corredor de centralidade, que ali tivesse todos os
serviços, evitando o deslocamento das pessoas no transporte coletivo ou no
particular.
Isso é um assunto muito discutível, eu sempre imaginei que a Cidade
poderia ter algumas unidades auto-sustentáveis e que, dentro de uma região de
planejamento, poderíamos ter centros de bairro, onde essa região de
planejamento se tornasse auto-suficiente. A pessoa mora naquela região e vai
para o centro do bairro, onde vai encontrar não só serviço público, como
serviços comerciais, serviços de saúde, social, escola, etc. Então, o centro de
bairro transformaria essas unidades urbanísticas em minicidades. Esse é um conceito
particular meu, que nós usamos no Plano anterior.
E aí, entendido, digamos, o que seria o Plano Diretor, o que é a Lei
que nós temos aqui, com os seus anexos, com os gabaritos das ruas, com os
padrões e áreas para loteamentos, áreas verdes, escolas, enfim, é uma Lei
complexa que se faz acompanhar de mapas em escalas razoáveis - um para 15 mil,
ou até maiores -, onde todos esses detalhes estão especificados. Então, o que
acontece? A Lei delega também, ao Executivo, duas coisas. Primeiro, sem
necessidade de nova lei, alterações do grupamento de atividades, se quiser
mudar atividades, porque no seu monitoramento constatou que naquela área cabe
mais algumas atividades não-permitidas, isso é feito por decreto. E o acréscimo
de vias, o traçado viário, também é feito pelo Executivo sem necessidade de
nova lei.
Isso, recentemente, como o sistema viário é de décadas, está
praticamente implantado, muito pouco falta, e essa Lei, infelizmente, não
tratou nada de novo para o plano viário, não tratou sequer do metrô. Nós temos,
então, a necessidade de verificar se esse plano viário, hoje, atende às
necessidades da população. Então, esse é um dos casos que nós gostaríamos de
ouvir, depois, dos senhores, se há dificuldades na circulação, se a população
tem dificuldades ou se o sistema viário está satisfatório.
Cito, como exemplo, que não foi aprovado pela Câmara, porque tinha esse
poder o Executivo de incluir o prolongamento da Rua Anita Garibaldi até a
divisa do Município; prolongou-a cruzando por loteamentos tradicionais, por
áreas já bem habitadas, por prédios que já estavam em construção, cruzando a
Vila Ipiranga e indo até a divisa do Município. Essa avenida sempre foi muito
discutida, e acho que nós, neste momento em que recebemos o Plano, novamente,
vamos tratar da matéria.
Nós entendemos o seguinte: a cabeça do sistema, o objetivo principal do
Plano Diretor, segundo a Lei, em importância municipal, é a população – até fiz
um pequeno gráfico. Essa população tem que se comunicar, em duas vias, com o
Executivo e com o Legislativo, são duas vias de duas mãos. A população procura
o Executivo, porque o Executivo que inicia o processo de planejamento; e, mais
adiante, a população procura o Legislativo, pois este que vai aprovar ou não a
lei; é o Legislativo que, hoje, está ouvindo a comunidade, está ouvindo a
população. Então, nós estamos, hoje, nesse caminho de o Legislativo, que é o
órgão que vai aprovar, e daí vai para o Prefeito homologar e publicar a lei,
nós estamos nessa fase de ouvir as demandas dos senhores para que possamos,
nesta Lei que vamos receber, considerar todas as questões.
Só para encerrar, Presidente, é que também, no meu entendimento, há uma
coisa muito importante que eu gostaria de deixar dita para vocês: quando se
elaborou essa Lei, dividiu-se a Cidade em oito regiões de planejamento, e havia
a convicção nossa, dos técnicos que participamos - não diretamente, mas como
assessores da Câmara -, de que essas oito regiões iriam ser detalhadas, teriam
o seu próprio Plano Diretor - imaginem a Cidade com oito Planos Diretores -, e
que a população dessas regiões passaria a ser a defensora do Plano Diretor, o
proprietário, os moradores seriam os fiscais do cumprimento do que estabelece a
Lei. Quer dizer, se surgisse qualquer irregularidade, estaria a população reclamando;
se prometido, naquele Plano Diretor da Região, uma escola, uma praça, um centro
de saúde e não fosse executado, estaria a comunidade reclamando aquela
reivindicação, aquela demanda. Por isso, eu acho que está no momento de nós, de
repente, com a colaboração dos senhores, passarmos a exigir do Executivo a
elaboração dos Planos Diretores das oito regiões de planejamento.
Só para concluir, eu tenho uma frase aqui que diz o seguinte: a Cidade
é dinâmica e o Plano Diretor deve estar sempre atualizado, sem perder sua
confiabilidade. Se o Plano perde a nossa confiabilidade - quer dizer que ele
não é cumprido pelo Executivo -, por exemplo, eu comprei uma casa sabendo que
ali não havia nada projetado, de repente, passa uma avenida por cima da minha
casa, mas eu comprei uma casa em um loteamento residencial; ou eu comprei, em
um edifício, um apartamento e não havia nada mais alto do que isso previsto, e,
agora, vem uma nova Lei e altera, a população acaba perdendo a confiabilidade
na segunda Lei mais importante do Município. Assim como a população deve manter
o respeito ao Governo Municipal para a população, e a população para
Legislação. Nesse caso, tendo esses Planos Diretores, assim como os senhores
vão confiar no Executivo, este vai confiar nos senhores, e os senhores vão
respeitar mais a Lei, porque a Lei fica no domínio dos moradores para fazerem a
cobrança por via direta ou via indireta pela Câmara Municipal. Era isso.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Passamos à comunidade. A
Sra. Carmem Martins Lopes, da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Dona
Leopoldina, está com a palavra.
A SRA. CARMEN MARTIM LOPES: Boa-noite a todos e a todas,
Vereador, todo mundo junto é bonito, muito mais bonito do que vi acontecer há
um tempinho atrás. Sou Vice-Presidente da Associação de Moradores e Amigos do
Jardim Dona Leopoldina, e sou, também, membro da UAMPA, e quero saudar a minha
Presidenta que está presente, a Irenita. Queria parabenizar, com todo o meu
coração mesmo, a Câmara de Vereadores e a UAMPA por estar fazendo esse tipo de
atividade, de momento que a gente viu frustrada no primeiro semestre deste ano,
quando a gente foi convidada, nós, os moradores de todas as Regiões, para
participar de uma reunião em que nós iríamos discutir o Plano Diretor. Tudo
bem, fomos lá, sentamos, acho que o Ver. Comassetto estava, sentamos e vamos
discutir o Plano Diretor. Veio o Secretário do Planejamento - meu grande amigo,
mas sinto muito -, e nos coloca toda uma história na tela, fala de altos e
baixos, de que esse prédio pode ser assim, esse prédio pode ser “assado”, mas
de Plano Diretor a gente não ouviu muita coisa. Bom, agora vai haver a
discussão, pensei, e nós vamos falar das nossas necessidades. Não; fim, acabou,
todo mundo para casa, ninguém teve a oportunidade de falar.
E é bom a gente, agora, retomar essa discussão, junto com a Câmara de
Vereadores, essa bela iniciativa da Câmara e da UAMPA, que é pioneira. A UAMPA,
desde que foi criada, sempre participou de todo planejamento desta Cidade, a
gente não pode esquecer isso; a UAMPA sempre esteve presente nos tempos áureos,
quando a gente não podia discutir muito, e aí não podia discutir, mesmo. Mas a
UAMPA estava lá, planejando, e fizemos um Plano Diretor - que eu sei, naquele
tempo eu era ainda paulista, morava em São Paulo -, mas que eu sei da história,
que foi um dos mais avançados do Brasil, e acho que agora a Câmara, de novo, e
a UAMPA, de novo, estão colocando Porto Alegre no lugar que ela merece.
E eu quero dizer que, realmente, eu acho que o Valério foi tranqüilo no
que ele refere. O que eu vim dizer aqui? Eu vim dizer que nós, na cidade de
Porto Alegre, e principalmente aqui na Zona Norte e no Eixo-Baltazar,
precisamos imediatamente da regularização fundiária. Nós estamos vivendo, temos
várias, até acho que a concentração maior da Cidade é aqui onde as áreas
ocupadas são maiores, onde tem mais pessoas precisando regularizar a sua
situação de moradia; há vários e vários anos aí de necessidade disso. Então, eu
queria reforçar a fala do Valério, nesse sentido, de que os Vereadores da
Cidade, na hora de fazer, de realmente fechar o Plano, preocupem-se muito com a
regularização fundiária, porque a gente tem os problemas dos Portais e vamos ter, lá na frente, quando vamos descer
do ônibus. Mas em função da nossa Região é a regularização fundiária o nosso
maior desejo, a nossa maior necessidade, e quem está falando isso é uma pessoa
que mora bem, que mora num lugar que não precisa de grandes coisas, mas que não
pode mais conviver com a situação de risco e das áreas que a gente tem aqui em
volta da gente, o problema da moradia é latente e é imprescindível que seja
realmente tomado frente nessa situação. Muito obrigada e um abraço a todos.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Com a palavra o Sr. Jackson
Roberto Santa Helena de Castro, da Associação do Porto Seco.
O SR. JACKSON ROBERTO SANTA HELENA DE CASTRO: Boa-noite a todos. Quero
parabenizar a Câmara de Vereadores, através da sua Presidenta, e parabenizo a
todos, pela bela iniciativa de abrir discussão nesse momento importante em que
Porto Alegre recebe e vive. Estou aqui para agradecer a oportunidade e falar um
pouco da nossa Região, tão sofrida, que é o Eixo-Baltazar. Nós estamos aqui no
Porto Seco já há alguns anos, acompanhando o crescimento desmedido dessa
Região, sem infra-estrutura, sem moradia, como falou a Carmen, , e eu gostaria
de defender aqui a ligação de um acesso - que nós já não chamamos mais de
acesso Norte do Porto Seco -, um acesso que nos beneficiará a todos, que seria
a ligação da Av. Assis Brasil com a Av. Plínio Kroeff, que acabou se tornando -
com o crescimento da Região, com a duplicação da Av. Protásio Alves, duplicação
Av. Manoel Elias, duplicação da Av. Antônio de Carvalho - uma Perimetral
natural, só que temos esse gargalo aqui. Para vocês terem uma idéia da
situação, nós cruzamos com caminhões pesados, nós temos hoje 28 empresas em
operação, e nós cruzamos com caminhões pesados por dentro de pequenas vilas,
com pequenas vielas, para poder passar; nós carregamos os fios de telefone,
carregamos os fios de luz, fazemos a população correr riscos, porque não temos
condições de operar nesta Região. O Porto Seco clama, há muito tempo, e com
este crescimento da Região, no entorno do Porto Seco, com mais empresas, com
mais moradias, com mais condomínios residenciais, ocupações ou não, ficou
inviável de se trafegar nessa Região.
Então, nós queríamos só registrar a necessidade que nós temos, ao coordenador da Mesa, que é um grande
guerreiro, há muitos anos, como todos os Vereadores que estão aqui, com relação
a essa necessidade que a Região do Eixo-Baltazar tem hoje quanto a esse acesso.
E neste momento, onde a gente vê a discussão pública da Câmara, nós gostaríamos
de deixar registrado isso aqui. Nós temos ainda um problema que nos preocupa já
para o segundo semestre de 2008, que é a chegada de mais 13 empresas para o
Porto Seco; são mais 13 empresas e, tranqüilamente, mais mil caminhões,
diariamente, dentro do projeto. Então, vocês imaginem como vai ficar a Av.
Bernardino Silveira de Amorim, a rotatória com a Av. Francisco Silveira
Bittencourt, da Plínio Kroeff, como ela vai ficar; inviável, totalmente
inviável. Nós estamos revivendo, como transportadores, nesta Região, o que nós
já vivemos no 4º Distrito, em anos passados, no Navegantes e São João, onde as
transportadoras operavam à noite, incomodavam a população, porque a operação de
carga, no mundo, ela opera 24 horas. Porto Alegre não pode ser diferente; Porto
Alegre não pode ser diferente. A nossa preocupação maior é essa, já com essa
chegada, além dessas 28 que nós temos já operando, mais 13 para o ano que vem.
E aí? Nós vamos ficar esperando mais quanto tempo? Nós precisamos, não é uma
questão específica, hoje, do Porto Seco de Porto Alegre; o Porto Seco gera,
hoje, em torno de 1.500 empregos diretos, mais de dois mil empregos indiretos,
e que nós queremos justamente atender nesta Região.
Não tem por que nós buscarmos colaboradores em outras regiões da Cidade; teria
de ser aqui perto do seu local de moradia. Eu acho que é isso, muito obrigado e
uma boa-noite a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): Nós vamos ouvir três da Comunidade, e um
Vereador, se assim os Vereadores quiserem. O Sr. Virgílio Manoel Aurélio, da
Associação Comunitária Nova Gleba, está com a palavra.
O SR. VIRGÍLIO MANOEL
AURÉLIO: Boa-noite à Mesa, aos Vereadores e aos lutadores
populares da Região Norte Eixo-Baltazar. Eu queria fazer dois registros aqui
antes da exposição das minhas idéias sobre este processo e discussão do Plano
Diretor. Eu queria fazer estes dois registros para chamar a atenção da
população sobre a importância de se estar permanentemente discutindo a Cidade.
Nós temos aqui no Jardim Coqueiros uma situação de agressão àquela comunidade,
àqueles moradores. Por um Projeto aprovado pela Prefeitura, que isolou aquela
comunidade, um projeto de habitação e um condomínio fechado, que isolou os
moradores e alagou parte da Vila onde estes moradores moram. Eu garanto que se
a população como um todo, os lutadores sociais, populares da Região tivessem
acompanhado este Projeto desde o início, ele não teria sido aprovado. U outro
Projeto que foi aprovado é o do Ecoville. O Ecoville já tem neste lado de cá o
Conjunto Habitacional Costa e Silva, que tem a sua vida no Sarandi; mora aqui
no Costa e Silva, mas tem a vida no Sarandi - escola, trabalho, saúde é tudo no
Sarandi, e eles passam por dentro. Corre o risco de um dia a Ecoville fechar, e
aí o acesso deles será ou pela Baltazar ou pelo Porto Seco. Vocês imaginem o
problema que isso vai criar. Mas eu queria colocar aqui uma questão que me faz
sempre pensar. Quando a gente fala na nossa vida da Cidade, quando a gente fala
em deslocamento, a gente sempre pensa no Centro da Cidade, porque o Centro é o
centro tudo, e é a vida de quase todo mundo da Cidade, mas o Centro congestiona
a Cidade. Então, eu acho que tem que se pensar num processo de descentralização
da Cidade. Os corredores, descentralidade, enfim, eu acho que tem que se
começar a pensar numa coisa desse sentido. Uma outra coisa que me chama a
atenção é a questão da acessibilidade, do transporte principalmente. E isso aí
eu tenho observado, quando se chama a discussão o transporte, a circulação,
logo se pensa em abertura de grandes avenidas, abertura de ruas, para que a
circulação seja facilitada. Mas tem uma coisa que não entra na discussão. Eu
quando cheguei em Porto Alegre, em 1959, os meios de transporte mais conhecidos
naquela época eram o bonde e bicicleta. O bonde se foi; a bicicleta, os
automóveis enxotaram. Agora, por incrível que pareça, na periferia ainda tem
muita bicicleta na madrugada, porque é o horário em que os automóveis não estão
circulando. Então, eu acho que nós lutadores sociais temos de começar a pensar
numa forma de repente a injetar esta discussão, vamos encontrar uma alternativa
para construir ciclovias na Cidade, por que não? Outra coisa que me chama
atenção na Cidade, e não é só na
Cidade, hoje é no mundo, no Brasil, é geral. Fala-se muito no aquecimento
global, o que é uma preocupação de muita gente. Agora, concretamente, o que a
gente faz para isso? Uma cidade pode fazer alguma coisa por isto. O Plano Diretor foi agredido por um setor de
Porto Alegre que queria impor, e impôs, as suas idéias. Para mim, tem que ser
uma coisa muito maior do que isso; para mim temos que pensar em uma forma de
como construir prédios, casas, que tenham economia de energia, economia de água
- temos que pensar nisto, porque isto é futuro, isto é futuro! Queria deixar
estas idéias para começarmos a pensar. Agora, queria chamar e aqui é uma região onde milito há muito
tempo, é uma região que não sai da peleia nunca, está sempre peleando, vamos
pelear até o fim. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra.
O SR. GUILHERME BARBOSA: Boa-noite
a todos; Ver. Nedel, que dirige os trabalhos; Sr. Ferraro, que nos deu
uma lição; nossa Presidenta; colegas Vereadores; Lideranças; Cupini,
Conselheiro da Região; meu colega e quase conterrâneo Jurandir - porque sou
alagoano, mas vivo há 31 anos em Porto Alegre; portanto, já me defino como um
“alaucho”; estudamos na mesma escola.
A fala do Sr. Ferraro – menos os que não são dá área, não são
Vereadores -, já mostrou para gente a importância desta lei chamada Plano
Diretor e até para dar um reforço ao que ele disse, quero citar um fato. Ele
disse que existe uma tabela que, entre outras informações, tem um tal de índice
de aproveitamento, ou seja, o quanto se pode construir em cada terreno,
dependendo da área da Cidade. Digamos, vamos fazer uma reflexão: existem
algumas regiões em que o índice construtivo é um, ou seja, se o terreno tem 300
metros quadrados, pode-se construir 300 metros quadrados naquele terreno. Se lá
na Câmara, por pressão ou por decisão, decidirmos trocar este número de um, para
1,5; o que parece nada, para 1,5 é nada. Na verdade, estaremos aumentando em
50% a possibilidade de construção naquele terreno; estaremos aumentando em 50%
- uma vez mais ou um pouco menos -, mas
em torno de 50% o valor do terreno; estaremos fazendo com que mais pessoas
ocupem uma área que pode ser boa, em determinado bairro interessante – isto é
importante -, mas, por outro lado,
teremos mais carros naquela região; teremos, talvez, problemas com a
rede de esgoto, com a rede de água, e
assim por diante. Então, para os senhores terem uma idéia de que modificando um
numerozinho, as conseqüências que poderemos trazer para a Cidade. Então, com
isto reforço dizendo o quanto é importante esta Lei; ela tem a ver com a
ocupação do solo – como estava dizendo -, e o valor que terreno pode ter; tem a
ver com o transporte, a mobilidade urbana; tem a ver com a economia da Cidade,
o seu crescimento, para onde é que vai crescer a Cidade – é uma discussão.
Portanto, é muito importante esta Lei, é importante que a gente escute a
população. Infelizmente já foi dito isto, o Executivo não promoveu esta
possibilidade; a Câmara está fazendo isto. O que temos ouvido - é provável que
o Executivo mande para esta Casa, na segunda-feira, o Projeto de Lei. Não vamos
construir outro Plano Diretor, vamos reformular este, que é de 1999. O que
temos ouvido, lido, acompanhado na imprensa, é que a discussão e o Projeto do
Executivo atinge principalmente, talvez unicamente, alguns aspectos, só a
chamada Macrorregião 1, que é da Terceira Perimetral lá para o lado do Guaíba.
Portanto, esta Região aqui, como muitas outras Regiões da Cidade, estariam fora
das modificações. Pelo que foi aprovado até agora, tenho simpatia. Diminuir os
prédios é interessante, aumentar o recuo é interessante, também, é mais sol,
mais ventilação. Isso é importante. Mas também há vários outros aspectos,
alguns já foram citados, aqui, que, aparentemente, o Projeto não vai levar. Um
que é muito importante, muito forte, é a questão da regularização fundiária.
Teremos que ter muita atenção com isso, porque é um reclame da Cidade inteira,
Carmem. Reduziu um estudo que já existia sobre as áreas de interesse cultural.
A história de uma cidade se conta, também, pelas suas construções, pelas suas
edificações. Isso reduziu. Não tem nada, pelo que se sabe, pelo menos, das
áreas de proteção ambiental. O Ver. Adeli Sell cita um caso, que é o caso das
Ilhas, que é uma área de proteção ambiental e não está devidamente abordado
esse tema. Tem a questão do transporte, que foi citado. O nosso sistema de
ônibus ainda funciona bem, mas ele tem uma capacidade máxima e ela já está
chegando no seu limite. Nós precisamos de um modal, como diz o pessoal da
área, mais potente. Nós, de fato,
precisamos escrever qual é o percurso da
linha de um metrô na Cidade.
Mas, ao mesmo tempo, levar em conta o que disse o Virgílio. E as bicicletas? Eu
reconheço que nós, nos 16 anos de Administração Popular, deixamos isso sem nada
mais efetivo. A Administração Fogaça, também. Mas é preciso abordar esse tema,
porque, de certa maneira, nós podemos considerar um transporte importante. A
Radial Anita precisa, também, ter o seu desenho, o seu percurso definido.
Discute-se há muito tempo, e eu fui
Secretário de Obras, o acesso Norte do Porto Seco, que tem que sair de uma vez.
É importante não só para o Porto Seco, mas para os empresários, mas para a
Cidade toda, principalmente para esta Região. Só para dizer que vamos discutir
a modificação dessa Lei importante e complexa. E a gente não quer ficar lá
isolado, só os Vereadores. Cada um de nós tem uma opinião, mas é importante
esta escuta que nós estamos fazendo, essas Audiências com a população, porque
vai enriquecer o nosso trabalho. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Professor José Valdir, do
Fórum da Segurança da Zona Norte, está com a palavra.
O SR. JOSÉ VALDIR: A nossa saudação, na pessoa
da nossa Presidenta Maria Celeste, a todos os Vereadores, às autoridades
Municipais e ao Plenário, nossos companheiros militantes, do movimento comunitário.
Quando a gente discute esta questão do Plano Diretor, eu tenho duas
preocupações, enquanto morador de periferia. A primeira é de que nós temos que
pensar o Plano Diretor também a partir da periferia, sob pena dele se tornar um
plano elitista. A segunda preocupação é que nós temos que pensar como um
Projeto de futuro, sob pena dele não ser nenhum plano. E acho que tem dois
princípios entre os muitos princípios orientadores desta discussão que nos
preocupam. Dois princípios ou duas diretrizes. A primeira é a da inclusão
social. Nós temos que dialogar com a cidade informal, não apenas com a cidade
bonitinha e regularizada. E, aí, a questão da regularização fundiária, como foi
levantada aqui, é fundamental. E a outra é que nós temos que pensar, também, na
qualidade de vida. Esta questão, a qualidade de vida, do ponto de vista da
periferia, porque são as classes populares que estão preocupadas com a
qualidade de vida. E por quê? Porque o capital, se deixar, ele constrói dentro
do rio, dentro do mar, na copa das
árvores. A fúria do capital não tem limite. E as elites não estão
preocupadas, porque elas podem comprar uma ilha, fazer esses condomínios
fechados e se refugiarem. Claro que isso cada vez mais está criando problemas. O mundo está sob ameaça, conforme
foi dito aqui. Então, nós temos que pensar na Cidade a partir desses
parâmetros. E trazendo concretamente a questão da Zona Norte, nós temos numa
área, principalmente naquele canto, lá, onde a gente mora, eu e o Virgílio, e o
pessoal da Nova Gleba, que está aí, tem uma representação, nós estamos naquele
canto, lá, onde está se dando a maior expansão demográfica e econômica da
Cidade. E nós já estamos vivendo, hoje, um grave problema: nós temos
engarrafamento praticamente o dia todo, que tende a se agravar! Então, nós
temos esse problema que tem que ser resolvido e, aí, eu quero reforçar o que o
Virgílio falou, a questão das ciclovias, que é um transporte saudável, barato e
adequado, principalmente, à Zona Norte, que é uma zona basicamente plana. Nós temos
que tirar como norma - não sei como lhe traduzir tecnicamente, tem os técnicos
para fazer isso - o seguinte: cada construção que se faz nesta Cidade, tem que
ser incorporada a questão da acessibilidade, e cada obra de duplicação devia
ter que pensar a questão da ciclovia, tem que incluir no Projeto. Quando nós
duplicamos a Baltazar, quando vamos duplicar a Bernardino Pastoriza, nós temos
que incluir uma ciclovia, porque se a gente pegar todo o dia de manhã, quem
mora lá, como eu, e que faz aquele trajeto,
é incrível o número, não só de motos, mas de bicicletas. Então, nós
temos que incluir isso dentro dos custos do Projeto, dentro do Projeto,
incorporar isso como uma necessidade.
E a outra questão que eu quero colocar quanto à qualidade de vida, a
nossa Região, a Zona Norte, especialmente aquele canto que eu chamo de Extremo
Norte, o pessoal da Zona Sul tem a mania de achar - ali na Av. Farrapos - de Zona Norte; aquilo para nós não é nem
“pré-norte”. Eu, por exemplo, que estou a cem metros do Arroio Feijó, divisa
com a Alvorada, para mim Norte é outra coisa, assim como para todos nós que
estamos aqui.
Então a Zona Norte recebeu equipamentos novos, tem o centro da FIERGS,
a pista de eventos, o Porto Seco, que foi falado aqui, que está em expansão.
Quer dizer, é uma região em expansão demográfica e também econômica. Nós temos
que, urgentemente, pensar em resolver os gargalos. E tem uma questão que há
cinco anos eu venho batendo, inclusive fiz até panfletos sobre isso: nós temos
que reservar naquele canto, mais para lá, um espaço para mais um parque na
Cidade, sob pena de quando nós pensarmos isso é tarde, não tem mais área. Por
enquanto nós temos área, ali justamente na confluência dos Bairros Sarandi e
Rubem Berta, nós temos área. Nós temos que gravar no Plano Diretor uma área
destinada com parque, porque o Parque Chico Mendes, aos modos do Parque Chico
Mendes, só que esse Parque não atende toda a população que está se expandindo
para aquele canto de lá. Então, isso significa pensar a Cidade também para um futuro,
com qualidade de vida para as classes populares, porque o rico tem a qualidade
de vida, ele compra a qualidade de vida onde ele quiser, ele vai lá para a
África e mora bem, vai para qualquer lugar e mora bem, porque ele tem condições
de comprar a qualidade de vida. Agora nós, como foi dito, nós temos que lutar,
e nós conhecemos muito bem, nós temos que lutar para construir e garantir,
agora, enquanto é tempo, qualidade de vida para nós e para os nossos
descendentes. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Sr. João Miguel da Silva
Lima, da COMETAL, está com a palavra.
O SR. JOÃO MIGUEL DA SILVA LIMA: Boa-noite a todos e a
todas. Eu moro aqui na Zona Norte, e a idéia básica que eu vim trazer aqui para
esta Audiência Pública é agradecer à Câmara de Vereadores de Porto Alegre; sei
que é a sua função, mas não custa nada agradecer. Os Vereadores têm que estar
na luta do dia-a-dia, e ouvir as comunidades, essa é a função do Vereador. Mas
com a possibilidade de trazer uma idéia, de ouvir a população, e para mim, que
milito na área das cooperativas e também dos metalúrgicos de Porto Alegre, é
bom trazer uma mensagem aqui para os Vereadores que vão votar o Plano Diretor,
porque está passando uma idéia na cidade de Porto Alegre, que parece que ele
está pronto, e já foi aprovado, mas quem decide isso são os nobres Vereadores.
O Ver. Nedel está aqui, foi lá na nossa Cooperativa, fez uma visita
para a nossa Cooperativa, e nós queríamos colocar aqui uma idéia básica para os
companheiros, os visitantes que estão aqui da Zona Norte de Porto Alegre. Eu
queria dar um exemplo de, como eu moro na Cohab, Rubem Berta, nós ocupamos
aquilo ali, lá em 87, e nós vimos como foi tão difícil quando começou a surgir
o Orçamento Participativo em Porto Alegre, de conseguir as demandas, eu vou dar
esse exemplo porque ele é fundamental para nós, e para o tema que vou comentar
depois. Então, cada demanda nossa aqui no Orçamento Participativo, a gente não
sabia, só ia encaminhando as demandas, demandas, e não tinha retorno, por quê?
Porque ali ainda era uma área
irregular. É uma luta titânica nossa do dia-a-dia para conseguir as demandas, e
agora eu trago esse exemplo aqui, porque tem muitas comunidades aqui na Zona
Norte, no Eixo-Baltazar, e na cidade de Porto Alegre que estão carentes disso.
A gente faz um trabalho diário em muitas comunidades, e eu queria deixar
registrado aqui para os Vereadores como é triste trabalhar com a expectativa
das pessoas, porque as pessoas se mobilizam, vêm nas assembléias ou nos fóruns,
e acham que está garantido; mas daqui a
dois meses, três meses chegam para a comunidade e dizem que não é possível,
porque a área é irregular, e por força de Lei de Responsabilidade Fiscal o
governante não pode executar a obra lá porque tem improbidade administrativa.
Mas como não disseram para a gente isso antes? Então, Vereador, esta é uma
oportunidade ímpar na cidade de Porto Alegre, de trabalhar com um tema
fundamental, que é garantir a regularização fundiária em Porto Alegre. Este é o
tema em Porto Alegre, isso vai trazer qualidade de vida para a cidade Porto
Alegre. A questão do tema das alturas, cidade mais alta, mas nós não moramos lá
no Centro de Porto Alegre! Nada contra, mas os daqui, ninguém mora nos bairros
nobres de Porto Alegre. A massa mora nas periferias. Então, os Vereadores que
são o olhar da Cidade, mesmo sendo da base do Governo, têm que olhar para a
população. Neste momento todos os partidos têm que olhar para a população de
Porto Alegre, porque depois vão lá na comunidade, com que cara, vai dizer que
votou contra o Plano Diretor para regularização fundiária, porque tinha que
atender os prédios e tal. Não, eu acho que este é o debate, é afirmar, para nós
da comunidade, que os Vereadores estão do lado do povo, que é a massa, para trazer
qualidade de vida. Esta era a nossa mensagem aqui. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): A Sra. Maria Iná Santos, da
Associação dos Moradores da Vila Amazônia, está com a palavra.
A SRA. MARIA INÁ SANTOS: Boa-noite a todos e a todas;
boa-noite à Presidente da Câmara, Ver.ª Maria Celeste; boa-noite senhores
empresários da Região Porto Seco, na pessoa do meu grande amigo; Ver. Dr. Raul;
boa-noite à Mesa. Em primeira mão, eu sou presidente da entidade que fica aqui
no Porto Seco, que é a Vila Amazônia. Ao mesmo tempo sou conselheira do
Orçamento Participativo, COP, lá na sala 10, no Centro, onde todas as
terças-feiras participo de reunião. Olha, gente, eu estava lendo um livrinho
que foi passado para nós aqui, e estou vendo que tem duas formas de negociar as
áreas: pedindo a regularização fundiária pela Justiça – é isso que eu entendo,
porque eu não entendo muito de leis. E a outra é na área de interesse social,
que se chama Área de Interesse Social para Habitação. Pois bem, eu me preocupo
muito, porque aqui na região Eixo-Baltazar, da qual sou conselheira - e também
o Sr. Hugo, a Filomai e a Andréia; só que hoje eles estão em outras reuniões -,
e eu estou aqui representando todas as comunidades do Eixo-Baltazar, que são
áreas irregulares também: a Vila Amazônia, a Jardim da Amizade, a Dom Pedro, a
Laranjeiras, a Vitória da Conquista, e a Coqueiro – eu acho que todo mundo
conhece a situação da Coqueiro, que é naquele valão, que tem 150 famílias. É de
doer, gente. Quando se vai naquele ônibus do Orçamento Participativo visitar
aquelas famílias, sou bem sincera em dizer a vocês que no último passeio eu não
desci lá, porque já conheço a situação e está cada vez pior. É uma área de
risco e até agora a gente não está vendo isso ser elaborado. Por quê? Porque
tem o empecilho da regularização na área. Eu estou feliz aqui, porque estou
vendo isto aqui, agora a minha pergunta é: isto aqui vai ser gravado no Plano
Diretor? Para, no futuro - o futuro que eu digo é provavelmente no ano que vem
-, que cheguem e digam para essas comunidades qual é a real verdade que tem
nisso. Porque as áreas que eu citei são áreas diferentes. Três delas compraram
os terrenos de uma grileira e a Vila Amazônia ocupou a área. A Vila Amazônia
está ali em cima daquela área há 10 anos e até hoje não se pode fazer nada ali.
A única coisa que se colocou ali, até onde pode, é uma água provisória para
nós, porque tínhamos uma água horrível, e hoje a gente conseguiu uma água menos
suja para aquelas 700 famílias que moram ali. E isso é em todas as comunidades
que eu citei aqui. Então, eu gostaria de saber dos Srs. Vereadores, já que
estão aqui ouvindo a comunidade, se isto aqui vai ser gravado no Plano Diretor.
Mas, que seja para ontem, gente, porque estamos cansados de sofrer, de esperar
e de ouvir dizer que não dá porque é área irregular. Eu queria me solidarizar
com o Sr. Jackson nessa situação de vocês. Se precisar do nosso apoio, nós
estamos ali para isso, até porque somos bem parceiros nisso. Não quero me
alongar, mas dói na alma da gente, porque eu sou presidente de uma entidade e
são mais de mil famílias esperando uma resposta, e até hoje eu não sei. Já fui
em reuniões com a regularização fundiária, lá no Centro, e até agora estou
aguardando. Por enquanto não veio nada. Mas eu espero que isso se torne lei e,
se for preciso, eu vou com meu povo para a Câmara de Vereadores para brigar por
isso, porque nós precisamos disso. Precisamos de tudo, precisamos de estrada,
precisamos de colégio, precisamos de transporte e precisamos de edifícios
construídos, que sejam altos ou sejam baixos, mas precisamos resolver a
situação dessas comunidades, gente; não é possível. Desculpem, porque a gente
se emociona. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Ver. Dr. Raul está com a
palavra.
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): A Sra. Maria Horácia Ribeiro, da UAMPA, está
com a palavra.
A SRA. MARIA HORÁCIA
RIBEIRO: Meu boa-noite a todos e a todas, ao coordenador da
Mesa; à nossa Presidenta, Maria Celeste; quero dizer que é um prazer estar aqui
no Eixo-Baltazar/Região Norte; oportunidade que a UAMPA fez no semestre
passado, eu não estava com vocês, mas sei que o trabalho foi interessante e que
nós conseguimos deflagrar este processo de discussão do Plano Diretor. Graças
às Audiências que a UAMPA promoveu no semestre passado e graças à malfadada
Audiência conduzida pelo Executivo, ou por um grupo que se postou lá, nós
tivemos o acolhimento da Câmara de Vereadores para que pudéssemos aqui, de
novo, fazer este debate do Plano Diretor. Diferentemente, Sr. Vereador, do
Recife, cujos empresários abandonaram, aqui é o contrário, os empresários
tentaram se apossar de um processo que não era somente deles, mas do conjunto
da sociedade de Porto Alegre. E nós fizemos uma iniciativa de buscar a Câmara
de Vereadores porque entendemos e sabemos que é lá que estão as nossas
representações, e que é pela Câmara de Vereadores que passa a legitimidade das
demandas da população, e numa Tribuna Livre manifestamos o nosso
descontentamento com aquele processo e tivemos a acolhida da Câmara de
Vereadores que, agora, oportuniza à comunidade este debate. Nós temos um ditado
de que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, então vamos, de novo,
bater aqui: queremos regularização fundiária, sim! Queremos lotes de interesse
social com 10 metros, porque quem é da comunidade simples acomoda seus
familiares, não dá mais para morar em kinder ovo, em lotezinho pequeno.
Acho que todas as pessoas que passaram por aqui falaram um pouco disso, mas
também falaram da questão da mobilidade. Eu cheguei atrasada porque fiquei
presa a li na Av. Sertório, num congestionamento que não acabava mais, e a Av.
Sertório é uma obra nova. Não, hoje vim de carro; eu já ando de moto exatamente
para fugir do congestionamento; estamos sempre presos a congestionamentos
porque nós não planejamos a nossa Cidade, e quando não planejamos a questão da
mobilidade, uma mobilidade limpa, estamos afetando o meio ambiente. Foi falado
do meio ambiente aqui, mas o nosso técnico Dr. Ferraro, quando leu sua última
frase, disse que a Cidade é dinâmica e a revisão do Plano não acompanha essa
dinâmica, daí a necessidade da revisão. Uma das proposições é de que venhamos a
instalar um Fórum Permanente de discussão do Plano Diretor, porque até a
próxima revisão este Fórum já vai ter construído consciência - e aqui são nove
e meia da noite e temos um grupo considerável acompanhando -, mas a nossa
intenção é de que este Fórum faça esta
discussão constantemente, até a próxima revisão, e que na próxima revisão
tenhamos que ocupar aquele salão lá, porque vai ter tanta gente disposta a
conversar, a falar, discutir sobre o Plano Diretor; vai entender a sua
importância. Quando o Ver. Dr. Raul diz que a gente ter que fazer esse
planejamento, que passa pelas nossas casas, que passa pelas nossas famílias e
também pela Cidade, nós, neste fórum, conseguiremos. Então, está lançado o
desafio: criarmos um fórum permanente de discussão do Plano Diretor,
regularização fundiária, mobilidade, enfim, um Plano de futuro. Obrigada.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): O Sr. Sérgio Cupini, Conselheiro da CMDUA –
3.ª Região, está com a palavra.
O SR. SÉRGIO CUPINI: Boa-noite
a todos, principalmente a nossa Vereadora Presidenta da Câmara Maria Celeste;
nosso Vereador de Recife, Dr. Jurandir; e principalmente ao meu amigo Ver.
Nedel, que há muitos anos já conhecemos.
Acho que um pouco da fala que faria aqui, o
Zé Valdir já me tirou. Acho que a gente sempre batalha por qualidade de vida;
nós batalhamos por várias coisas, mas esquecemos das praças. A gente lembra do
Orçamento Participativo, do qual participo desde 1992, quantas e quantas vilas
e bairros se retiraram, porque queriam implantar uma praça, mas não havia
dinheiro gravado junto à SMAM, verba suficiente para fazer uma praça na região.
Então, temos que repensar isso, de fazer como já temos a Praça Chico Mendes,
que pertence ao Eixo Nordeste; o Norte também tem esse privilégio de uma área a
ser definida pelo Município, e por todos nós, já com essa idéia da Horácia,
nossa Presidenta da UAMPA, de termos uma consistência maior e definir, porque
normalmente os nossos políticos que dirigem nossa Cidade, não sabem a dura
realidade do que nós dizemos, não é Virgílio? A gente que é mais da periferia,
num sábado ou domingo, a gente, às vezes, precisa ter um pouco de lazer, e
também de conversar e ter as nossas ansiedades expostas.
O segundo ponto que eu quero expressar é com
respeito à Av. Baltazar, é uma preocupação nossa e já foi discutida aqui num
dos fóruns do Orçamento Participativo, sobre a descentralização do comércio da
Assis Brasil para ser, aos poucos, ser implementado aqui na Baltazar; para não
se locomover grande parte de moradores do Bairro Rubem Berta, Leopoldina,
Valneri Antunes ou outras vilas, que tem que se dirigir à Av. Assis Brasil para
fazer seus pagamentos, suas compras. Hoje temos o Banrisul no Centro
Humanístico Vida, graças ao esforço de toda aquela região, da Eloíta, porque a
grande maioria do Governo não queria implantar o Banrisul lá, mas com a nossa
persistência, a duras penas,
conseguimos. É só o Banrisul que nós temos, senão temos que ir à
Alvorada ou à Av. Assis Brasil. Então, como foi dito aqui, pelo Dr. Ferraro, os
pólos de centralidade, eu acho que o Leopoldina ou o Passo das Pedras seriam
bons locais para gerirmos nosso comércio e para não descentraliza. Eu acho que
é uma oportunidade também para a região onde o Zé Valdir mora, ter esse pólo de
centralidade para que a gente não precise se deslocar muito de uma região para
outra. Acho que a Eixo-Baltazar está-se preocupando e debatendo isso para que
realmente, a gente vá menos ao Centro da Cidade fazer compras, diminuindo,
assim, o caos de trânsito que os temos na nossa região. Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João
Carlos Nedel): O Sr. Edmilson Espíndola, do CAR Norte, está
com a palavra.
O SR. EDMILSON ESPÍNDOLA:
Meus cumprimentos a todos, meu abraço fraterno à Presidenta da Câmara
Municipal, minha colega Maria Celeste; o nosso Vereador de Recife; cumprimento
todos os nossos Vereadores de Porto Alegre. Quero dizer para o nosso Vereador
que a cidade de Porto Alegre é o berço da democracia participativa, que nasce
nessas discussões do Orçamento Participativo. Essa é a visão e é um exemplo
para o País e para o mundo de democracia participativa.
Eu não vou me estender muito naquelas
questões básicas que nós queremos discutir. Nós que acompanhamos o Orçamento
Participativo na Região Eixo-Baltazar, eu trabalhei 16 anos como Delegado, como
Conselheiro. E, agora, coordenando a Região Norte, Eixo-Baltazar, no Governo,
sinto-me muito feliz de trabalhar na minha região, onde me dou com todos os
líderes comunitários e com as pessoas. Mas, vejam só, o Conselho do Plano
Diretor – e o Cupini está aqui e, durante muitos anos nós batalhamos – nunca
ninguém gostou de discutir o Plano Diretor nas Regiões. E isso, até hoje, se vê
os Planos Diretores das Comissões esvaziados, porque tem aquele rótulo de que o
Plano Diretor é só para os engenheiros, é só para elite, não adianta irmos lá,
porque nós não entendemos o Plano Diretor.
Por isso, que nós, muitas vezes, vamos
ficando, a periferia – como disse o Zé
Valdir – para trás. Vocês vejam só, aqui, ao lado da Coca-Cola, que é a esponja
- quem não conhece a Região Norte toda aqui -, nós somos cercados de arroios:
Arroio Sarandi, Passo Feijó, Santo Agostinho, Chimarrão, tudo isso aí, se nós
tivéssemos aquela esponja ao lado da Coca-Cola, que é onde passa o dique, toda
a água vai para aquele lado lá, nós estaríamos afogados, sim. E já aconteceu
de, lá na Farroupilha – quem conhece a região, sabe -, na Asa Branca, a água
entrou dois metros e meio para dentro das casas e nós tirávamos as pessoas
pelas janelas. Prestem atenção, nossos Vereadores, dentro do Plano Diretor há um
grande empreendimento para aquela área lá. Nós puxamos aqui para a Região,
chamamos os conselheiros e dissemos que queríamos saber como é que vai ficar a
Elisabete, como é que vai ficar a Asa Branca, como é que vai ficar a
Farroupilha – bem como disseram aqui: eles constroem, fazem. Mas como é que vão
ficar essas pessoas todas? Porque isso vai responder e vai dar problema, sim,
lá na divisa de Alvorada, porque o Arroio Feijó tem um braço que sai, que
atravessa a FIERGS e que sai lá no dique. E digo para vocês - quem está aqui
sabe da Região, os conselheiros -, nós tivemos um momento em que tivemos de
invadir o terreno da Coca-Cola, às duas horas da manhã, botar uma patrola lá
dentro e abrir um valo para aqueles campos lá, senão, nós teríamos problemas
gravíssimos na Região. Então, existe, lá dentro do Plano Diretor, esse
empreendimento para aquela área toda, de frente para a Freeway, na Coca-Cola.
Mas quero lembrar a vocês que eu não vou
falar da regularização fundiária, eu quero perguntar e deixar claro para todos
os Vereadores o que é regularizado, porque aqui nós temos a Amazônia, com 600
famílias; temos a Vitória da Conquista, com mais 600; temos a Dom Pedro, com
mais 300; a Laranjeira, e vamos indo, nós temos um bairro nobre, logo aqui, o
Alpino, que não é regularizado. Temos o Passo das Pedras, que não é
regularizado, o Leopoldina, o Cohab, Rubem Berta, Timbaúva - nada é
regularizado na Região! Então, eu me pergunto: o que é regularizado? São 750
vilas irregulares em Porto Alegre! Então, se vocês perguntarem se o Parque
Madepinho recebe carta; saibam que não recebe carta, porque não é regularizado,
não tem CEP. Então, isso é um assunto, sim, de nós debatermos na Câmara de
Vereadores, de a população de lá se empenhar para fazer a regularização
fundiária. E, por último - que já falaram -, transformar essas áreas. E eu
tenho certeza de que a Câmara de Vereadores é parceira e nós somos parceiros da
Região, também, no sentido de transformar essas áreas em Áreas de Interesse
Social. Isso nós batemos todos os dias, fomos para a Conferência da Cidade e
debatemos esses dois assuntos: vamos transformar essas áreas em Áreas de
Interesse Social! Não queremos as imobiliárias especulativas, que existem, no
dia a dia, os grileiros. Isso nós não queremos; nós queremos é transformar
essas áreas em Áreas de Interesse Social e fazer a regularização fundiária.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. JUREMA SALETE COSTA INÁCIO: Boa-noite a todos, eu
represento a comunidade do Parque das Laranjeiras e gostaria, neste momento, de
reiterar as palavras que foram ditas aqui em relação à questão da regularização
fundiária. Na verdade, nós somos - aqui do Parque das Laranjeiras -, essa área
do lado de lá, da Plínio Kroeff. Então, é uma área que, na verdade, nós somos
terceiros de boa-fé, porque nós compramos e não temos direito nem de participar
do OP; lá não tem esgoto, água, e outras coisas as quais como cidadãos, temos
direito. Então, eu gostaria de deixar aqui gravado para os Srs. Vereadores que
estão presentes e convidá-los, para quem tiver interesse de fazer uma visitação
na Avenida General Sady Cahen Fisher, que na verdade é uma continuação
da real Av. General Sady Cahen Fisher, que fica no bairro Santa Fé; essa
Avenida vem lá do Santa Fé, atravessa o Laranjeiras e sai na Sivestre Félix
Rodrigues. Na verdade o que acontece ali? Ali é uma ligação de bairros, e, a
cada 2 ou 3 minutos passa um carro em alta velocidade, na maioria das vezes,
porque é uma “avenidona”, uma avenida grande mesmo. Então, crianças atravessam
aquela avenida; não há quebra-molas na Avenida, a não ser aqueles que a própria
comunidade criou. Parece que estamos sendo excluídos, porque além de não termos
o direito sobre as nossas casas, também não temos esgoto; a patrola só passa por lá quando a gente
solicita! Só que nós precisamos que vocês, como Vereadores e como membros da
Câmara, enxerguem que essa Av. General Sady Cahen Fisher é uma ligação de
avenidas e precisa ser asfaltada; que o esgoto tem que chegar até as nossas
casas, estamos muito necessitados. Então, quero reiterar essa questão da
regularização fundiária, que nós precisamos, e do acesso à cidadania dentro da
nossa comunidade. Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Sr. José Gonzáles, da
Comathab, está com a palavra.
O SR. JOSÉ GONZÁLES: Boa-noite, Sr. Presidente,
Ver. João Carlos Nedel; Ver.ª Maria
Celeste, Presidenta da Câmara; Vereadores aqui presentes, a situação aqui na
Zona Norte, se falou muito em regularização fundiária, mas isso não é culpa dos
Vereadores, não é culpa do Plano Diretor; é culpa dos próprios conselheiros do
Eixo que por aqui passaram. Vocês vão lá e votam Habitação - Habitação sempre
sai em primeiro lugar aqui no Eixo da Baltazar, sempre primeiro. Agora quando
se pede regularização fundiária, saneamento básico, que é o alicerce da
construção da sua casa, do seu terreno, a sua escritura primeiro no cartório
para depois ir à SMOV, construir seu imóvel, isso não é informado aos
habitantes, aos moradores, isso não é. Por isso que está essa calamidade
pública que está aí. É por isso que há gente morando num cantinho ao lado dos
valões, em área de risco, é o que mais tem aqui. O Passo das Pedras é a segunda
vila mais antiga da Zona Norte, e é a primeira em calamidade pública. Está ali,
uma empresa que se instalou, comprou uma nesga do lado da Vila dos Coqueiros e
botou o “muro da vergonha” ali e ainda canalizou, levando as enxurradas, os
alagamentos, tudo para aquela vila, por quê? Interesse imobiliário,
empresários, é por isso que o nosso Passo das Pedras está há 40 anos assim. Não
existia o Leopoldina, não existia o Parque dos Maias, não existia o Costa e
Silva, nada disso existia, não existiam as quatro invasões como as que existem
hoje no Passo das Pedras. Então, agora, depois de 30 e poucos anos, assumi esse
compromisso na Zona Norte, e eu não sou de Gabinete, senhoras e senhores, eu
sou comunitário; já trabalhei na UAMPA com a Horácia, com o Pino, com a Enoita,
com o Zé Valdir, do Movimento Comunitário. E vou dizer para vocês: eu não ganho
nada, não ganho nada para fazer isso, e quem deveria fazer são os conselheiros,
os Gabinetes, os assessores deveriam fazer isso aí, e não fazem! É verdade, é
verdade, Enoita, tu sabes que eu sou polêmico nesta parte, que eu sou rebelde
nesta parte. Eu gosto das coisas justas para esta Cidade, está ali a Amazônia,
vamos lá! Enche, faz aquele inchaço aqui dentro! Quantas vezes eu fui lá
visitar, e tinha quatro cooperativas habitacionais lá dentro, não se entendiam;
duas associações, não se entendiam, é por isso que a senhora não tem água lá, é
por isso, não tem saneamento. É por isso que a Coqueiro também não tem, é isso
aí. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Sr. Rolf Naumann, da
Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Higienópolis, está com a palavra.
O SR. ROLF NAUMANN: Boa-noite a todos, Sr.
Presidente da Mesa, Ver. João Carlos Nedel; Sra. Presidenta da Câmara, Sr.
Presidente da Mesa, Srs. Vereadores, Higienópolis já integrou este Eixo
Baltazar em épocas anteriores, hoje nós
estamos mais próximos do Centro, mas o nosso coração, em parte, ainda está
aqui, e, por isso, eu tenho coragem de me manifestar, apesar de que foram falas
muito procedentes que a gente ouviu aqui e quase é uma temeridade a gente
querer ainda acrescentar alguma coisa. Com as idéias, demandas e sugestões
apresentadas aqui, eu acho que a Câmara já tem muito que fazer, e o Plano
Diretor revisado vai sair bastante melhorado, se forem respeitadas essas
idéias, entre elas, a mais importante, certamente, é a preocupação de criar
lugar, ambiente, espaço para as nossas populações da periferia.
Quem veio a Porto Alegre em 1930, como eu vim, ainda está bem
consciente dos verdes morros, das lagoas aqui por perto, onde a gente pescava,
como era bucólico e bonito, e podia ter sido conservado tudo isso, se tivesse
havido um plano, um planejamento adequado. Vamos ver se podemos ainda remediar
alguma coisa. Vai ser difícil e vai custar muito dinheiro, de forma que as
nossas esperanças devem não ser exageradas, mas vamos atacar os problemas.
Eu quero
transmitir para vocês uma experiência que nós tivemos em Higienópolis e que
talvez seja interessante para os Srs. Vereadores, que encaminham agora o Plano,
também levar em consideração. Nós temos a convicção de que o que falta neste
Plano é, entre outras coisas, que o desenvolvimento, as novas iniciativas nos
bairros consolidados, que não é bem o assunto aqui desta Região, devem tomar em
conta o que existe. Não se pode mais liberar construções só pensando no espaço
disponível, na área. Eu tenho 300 metros quadrados, ou 3 mil, e o Plano me
permite fazer uma construção dentro dos limites fixados, sem respeitar a
vizinhança, sem se preocupar com qual vai ser o impacto sobre a vizinhança.
Quando nós tivemos, no sábado retrasado, uma Audiência lá na Zona Sul, na
Cavalhada, uma Vereadora nos falou, e isso causou um entusiasmo, que ela estava
pretendendo colocar, na casa dela, energia solar, o aproveitamento da energia
solar, seja para aquecimento da água, seja para a produção de energia. Eu faço
votos que ela não tenha o mesmo azar que nós; o nosso prédio em Higienópolis
teme que, ao lado dele ou na frente, no outro lado da rua, alguém invente de
fazer uma construção de dez, 12, 15 ou 18 andares, como é permitido. Pessoal,
nós não temos mais sol após as duas horas da tarde, no inverno. Aí o projeto da
energia solar “se vai ao brejo”. Nós temos que realmente viver mais com a natureza
e não contra ela, isso confirma o que foi dito com muita consistência aqui.
Então, eu só queria fazer esse apelo aos Srs. Vereadores, que respeitem
o meio ambiente, respeitem o que a natureza nos propicia, para que nós não
corramos sempre atrás da máquina e não na frente dela (sic). Foi falado
do plano cicloviário, que faltam ciclovias. Vocês imaginem, certamente há dez
anos já se discute isso na temática de circulação e transporte, que eu integro
há 15 anos. Existe, na Prefeitura, um grupo que trabalha em cima disso, vejam o
tempo que se trabalha e o Plano ainda não saiu do papel, e já se gastaram
verbas para esses estudos, que têm que ser feitos. Mas as coisas demoram demais
para o meu gosto. A gerência de uma Cidade como a nossa, que é tão grande, deve
ser feita realmente como a gerência de uma grande empresa. Não se pode
gerenciá-la como no tempo antigo, temos que mudar isso. Exigir é fácil, nós
todos sabemos que os recursos são escassos, mas o pouco que temos de recursos
humanos devíamos – acho eu – aproveitar com mais eficiência.
Srs. Vereadores, vocês podem ter certeza de que a expectativa da
comunidade para com o trabalho de vocês é muito grande, vocês têm muita
responsabilidade. E Deus queira que
sejam bem sucedidos. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Com a palavra do Sr. Rolf
Naumann, encerramos a oitiva da comunidade.
Eu queria, em nome da Câmara Municipal, agradecer a presença das
senhoras e dos senhores nesta Audiência Pública, especialmente a do Ver.
Jurandir Liberal, que ficou todo o tempo aqui presente – leve os nossos
cumprimentos à sua bela cidade do Recife. E queria cumprimentar o Ver. Adeli
Sell; a nossa Presidente Ver.ª Maria Celeste; o Ver. Carlos Comassetto e o Ver.
Dr. Raul, que ficaram até o final ouvindo a comunidade. Meus parabéns. Muito
obrigado.
Está encerrada a presente Audiência Pública. (Palmas.)
(Encerra-se a Audiência Pública às 22h.)
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